O Brasil vem consolidando sua economia, reduzindo a linha da pobreza e
 conquistando notoriedade internacional como o eldourado ocidental. 
Isso, porém, não significa que o abismo social tenha acabado ou 
diminuído expressivamente. Basta caminhar pelos centros urbanos ou 
atravessar os campos para se ver que ainda falta muito. Dificuldades no 
acesso a educação de qualidade, carências no sistema de saúde, segurança
 pública fragilizada.
Nestes tempos de pós-modernidade, em que as
 virtudes são valores em linha de combate, o Executivo nem sempre alinha
 políticas livres de fisiologismos e direcionadas efetivamente ao estado
 social, e o Legislativo nem sempre elabora leis que objetivem a 
concretização dos direitos. E neste aspecto é preciso reconhecer que o 
Judiciário também acaba faltando às pessoas, deixando muitas vezes de 
lhes garantir o acesso a direitos constitucionalmente consagrados. Pois 
bem, sem adentrar na esfera dos outros poderes do Estado e na defesa de 
boa parte de seus agentes políticos que fazem por merecer a autoridade 
depositada em suas pessoas pelo povo, pode-se dizer que, não obstante 
longe da perfeição, o Poder Judiciário desempenha fundamental papel na 
consolidação do Estado democrático de direito.
Na obra “Ética a 
Nicômano”, na qual Aristóteles nos dá profundas lições sobre as virtudes
 como caminho para a felicidade, percebe-se que a democracia nos moldes 
da Grécia antiga aproximava-se do ideal. Era uma democracia baseada em 
pessoas virtuosas, que exercitavam a coragem, temperança, magnanimidade.
 Hoje, depois de muitos anos compondo os quadros do Judiciário, ainda 
que possa parecer ausência de modéstia (não é), estou certo em afirmar 
que a magistratura do País é composta, em sua maioria absoluta, por 
homens justos, virtuosos, nos termos aristotélicos, composta por homens 
éticos. Nunca antes o Judiciário foi tão procurado. São centenas, 
milhares de decisões diárias, que reconhecem e determinam pelo Brasil 
afora a concretização de preceitos constitucionais. Na esfera 
individual, veem-se pessoas obtendo o respeito aos seus direitos, de uma
 garantia de participação em um concurso público ao acesso a 
medicamentos. Na esfera coletiva, direitos são conferidos em questões 
que vão do consumidor ao meio ambiente. Nem todas essas decisões 
alcançam notoriedade, mas todas alcançam as pessoas na sua demanda, 
conferindo a proteção do Estado.
Desta forma, e lamentando neste 
ponto as generalizadas e passionais declarações do atual presidente do 
Supremo Tribunal Federal, é possível dizer que os juízes trabalham na 
virtude. Atuam com coragem, não raras vezes tendo que enfrentar ameaças à
 própria vida. Atuam com temperança, não se deixando levar por paixões, 
refletindo e ponderando sobre a decisão tomada. Atuam com magnanimidade,
 dignificando o relevante mister de julgar. As naus da Justiça, não 
importa a força das intempéries, vão por esses cursos. É o que se 
acredita, é o que se concretiza.
*juiz corregedor em Joinville e conselheiro executivo da Associação Juízes para Democracia (AJD)
Fonte: Jornal A Notícia de 29/03/2013 ( http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a4089813.xml&template=4187.dwt&edition=21656§ion=2479)