- Tomara que seja um filme de aventura – era o detento José (fictício),
aos 21 anos, preso por tráfico, aguardando o final do dia chegar para
poder, com outros detentos de bom comportamento, assistir na sala
adaptada a uma sessão de cinema. Alguns de seus companheiros de cela
preferiam drama, outros comédia... Mas todos estavam ansiosos pelo
filme. À parte todos os graves efeitos que a restrição da liberdade
causa, a execução penal precisa proporcionar condições para a harmônica
integração social do reeducando, de forma que quando ele retornar à
sociedade, depois de cumprir sua pena, assim o faça comprometido com a
paz e o respeito à lei.
Isso não é simples, mesmo para quem está livre. E na prisão demanda
muito mais empenho dos profissionais que atuam no sistema. Lição antiga,
um dos caminhos é a ocupação da mente. A troca de momentos carcerários
ociosos por trabalho, estudo e cultura proporciona o resgate da
autoestima do reeducando e o desenvolvimento de sua capacidade crítica,
condição fundamental da civilização.
Neste ponto, o cinema é uma das possibilidades, pois, assim como o
livro, é um eficaz meio para contar histórias. Como registrado na obra
Salve o Cinema – Leitura Crítica da Linguagem Cinematográfica,
coordenação de Fabio Henrique Nunes Medeiros e Taiza Mara Rauen Moraes,
os filmes permitem desenvolver diálogos, reconstruir momentos históricos
e fortalecer relações pessoais e sociais. Ou seja: o cinema é uma
importante ferramenta de auxílio didático (Modro, Nielson Ribeiro.
Cinema no Ar).
Levando isso em consideração, a portaria judicial nº 22, de 13/8/13,
instituiu o Projeto Cinema na Execução Penal em Joinville. Por ela, o
reeducando com bom comportamento poderá participar de sessões de cinema
dentro da unidade prisional, assistindo a filmes previamente
selecionados e catalogados pela direção.
É preciso sempre buscar despertar o que há de melhor no ser humano, sua
capacidade de pensar, de adquirir consciência crítica sobre a vida e
suas vicissitudes, de forma que possa desenvolver a ética (inspiração do
filme Hanna Arendt, que recomendo). O cinema é mais um passo para isso.
É uma forma de arte que também, se bem aproveitada, resgata e dignifica
o homem, estando ele preso ou livre. Em última análise, é a arte a
serviço da liberdade, no seu mais profundo significado humano. Boa
sessão, José.
*JUIZ DE DIREITO DA EXECUÇÃO PENAL, CORREGEDOR DO SISTEMA PRISIONAL DA COMARCA DE JOINVILLE E MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA
Fonte: Jornal A Notícia de 31/08/2013