Recentemente passou em nossos
cinemas o filme Hannah Arendt, que mostra um episódio que marcou a
vida da filósofa alemã. Ela cobriu para a revista New Yorquer, em
Jerusalém, o julgamento do nazista Adolf Eichmann, capturado pela
polícia secreta israelense em Buenos Aires, acusado de crimes no
genocídio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Após intensa observação e
reflexão, ela concluiu que Eichmann não era um monstro, mas apenas
um funcionário a cumprir burocraticamente suas obrigações. Ele
perdeu a condição de ser humano quando parou de pensar acerca da
natureza de suas ações, momento em que se deu a "banalização
do mal".
Guardadas as devidas proporções,
nosso país também vive uma situação de banalização da
violência, não só a decorrente da criminalidade, mas também a
cometida em nome do Estado. Em Santa Catarina são rotineiras as
denúncias de tortura e maus tratos executados no sistema
penitenciário. Em pouco mais de dez anos o estado passou de exemplo
na recuperação de menores infratores a contumaz violador dos
direitos humanos.
Na contracorrente, o
Juiz da Vara de Execuções Penais de Joinville, João Marcos Buch,
editou uma portaria para determinar que mensalmente os presos
participem de sessões de cinema, no próprio presídio. Ele acredita
que a arte pode sensibilizar e transformar o ser humano.
O problema é que a Procuradoria
Geral do Estado disse que o projeto é uma “extravagância”. Tal
qual Eichmann, eles acham que existem procedimentos a serem
observados e que o juiz teria ultrapassado suas atribuições. Então,
requereram ao Tribunal de Justiça a anulação da portaria, de
maneira a garantir que a burocracia continue a desumanização do
sistema prisional.
Nesta altura, talvez seja o
momento de pensarmos no projeto “Cinema nos Gabinetes”.
* Juiz do Trabalho, membro da
Associação Juízes para a Democracia
Fonte: Jornal Diário Catarinense de 13/12/2013.